A Cultura do Samba e o Protagonismo Feminino no Carnaval Carioca

O samba é muito mais do que um ritmo — ele é identidade, resistência e celebração. Nascido nos quintais e terreiros, o samba é herança das tradições africanas trazidas pelos povos escravizados, misturado às influências europeias e indígenas que compõem a riqueza cultural do Brasil. No Rio de Janeiro, o samba floresceu como símbolo da cultura popular, tornando-se a trilha sonora das ruas, dos desfiles e da própria história do Carnaval carioca.

Além de ser uma manifestação artística, o samba é uma expressão de comunidade. Ele une gerações, promove encontros e fortalece o sentimento de pertencimento. Cada roda de samba, cada ensaio de escola, cada batuque na avenida é uma celebração da memória coletiva e da luta por representatividade.

E, ao longo dessa história, as mulheres desempenharam papéis fundamentais. Elas foram — e continuam sendo — guardiãs da tradição e impulsionadoras de inovação. Grandes nomes como Dona Ivone Lara, primeira mulher a assinar um samba-enredo de sucesso no Carnaval, abriram caminhos para outras compositoras e intérpretes. Clara Nunes, a “Guerreira do Samba”, levou o gênero para novos públicos e eternizou clássicos que ainda emocionam multidões.

No universo do Carnaval, o brilho das mulheres é incontestável. Figuras icônicas como Leci Brandão, que além de cantora e compositora é voz de resistência e militância social, e Tia Ciata, considerada uma das matriarcas do samba carioca, foram fundamentais para manter viva essa cultura. Já nas escolas de samba, rainhas e musas de bateria, como Pinah, primeira rainha de bateria da história, ou nomes atuais que seguem inspirando novas gerações, são símbolo de força, beleza e dedicação.

E essa história segue viva e pulsante nas favelas do Rio de Janeiro. Na Rocinha, temos orgulho de fazer parte do Pagodin da Lú, uma roda de samba feita exclusivamente por mulheres, que em 21 de abril de 2026 completa dez anos de existência. Mais do que música, somos um movimento de resistência e celebração, onde cada batida do tamborim e cada verso cantado ecoam a força da mulher sambista.

Nosso ingresso é simbólico, um quilo de alimento não perecível, que é destinado a ações solidárias. Mas o que realmente atrai nosso público é a energia única da nossa roda, que se tornou aguardada por toda a comunidade e atrai gente de fora da favela. Nós amamos ser o Pagodin da Lú, porque somos prova viva de que o samba é espaço de protagonismo feminino, de alegria e de transformação social.

O samba é resistência, é ancestralidade, é alegria. E cada mulher que carrega no corpo e na voz essa tradição ajuda a garantir que ele continue vivo, pulsando e transformando vidas.