Jô Martins

O samba já vivia em mim muito antes de eu compreender o que era Carnaval.
É uma herança que corre nas veias: meu avô foi rei de Maracatu, lá em Fortaleza.
Foi com ele que aprendi a respeitar os tambores, a força dos cortejos, a beleza das tradições populares.
E é essa mesma herança que hoje passa adiante: minha filha, que abraçou a arte, a cultura e o amor pelo samba, também ensina e empodera outras pessoas com suas aulas, mantendo viva nossa história e nossa paixão.

Quando criança, eu assistia aos desfiles das escolas de samba pela TV e sonhava em estar ali.
Tudo parecia mágico, distante… quase impossível.
Nunca imaginei que o destino me traria para o Rio de Janeiro — e mais ainda: que me colocaria dentro daquele mundo encantado.

Em 1996, vivi um dos momentos mais marcantes da minha vida:
a festa da Acadêmicos da Rocinha, celebrando o tão sonhado acesso ao Grupo Especial.
A comunidade inteira pulsava como um só coração, e ali senti o primeiro chamado.
O brilho, o tambor, a força da emoção… algo despertou dentro de mim.

No ano seguinte, 1997, pisei pela primeira vez na Marquês de Sapucaí, para assistir ao desfile da Rocinha no Grupo Especial.
O enredo? “A Viagem Fantástica de Zé Carioca à Disney”.
Assisti de perto, olhos brilhando, coração acelerado.
Mas foi quando a ala de passistas entrou que tudo mudou.
A leveza, a garra, a beleza no pé…
Foi ali que o amor me atravessou de vez.

Em 1998, já não cabia mais dentro de mim o desejo de viver aquilo de fora.
Desfilei pela primeira vez em cima de uma alegoria.
E desde então, nunca mais saí.
A Rocinha me acolheu como família, virou meu chão, minha bandeira, minha paixão.

Os anos passaram, e meu caminho se fez dança, dedicação e cultura.
Tornei-me passista desde 2000,
instrutora e personal dance desde 2010,
diretora da da agremiação desde 2012,
Assumindo junto a Tati Rosa a diretoria da ala de passistas no ano de 2024 e atualmente,
sempre guiada pela vontade de ensinar, inspirar e elevar cada passo de quem sonha com o samba.

Em 2017, fui coroada Musa do Bloco Aí Que Vergonha, celebrando a alegria, a força e a leveza da mulher que dança com o coração.
Mas o mesmo ano trouxe o desafio do acidente da Unidos da Tijuca, uma prova dolorosa que transformou minha vida e fortaleceu ainda mais meu amor pelo Carnaval.

Hoje, sigo criando, ensinando e inspirando:
sou idealizadora do projeto Viva o Samba na Rocinha, levando cultura e dança para a comunidade;
participo da produção do Pagodin da Lú, celebrando a música e a alegria popular;
sou empreendedora à frente da Boutique Encantos da Borboleta, unindo identidade cultural e moda;
e tenho o orgulho de ver minha filha seguindo o mesmo caminho, levando adiante a herança do samba, a paixão pela cultura e o amor pelo ensino.

Cada aula, cada projeto, cada desfile, cada passo meu carrega a história de uma menina sonhadora, neta de rei de Maracatu, que um dia viu o Carnaval pela TV e foi atravessada por ele de corpo e alma.
O samba não é apenas meu ofício: é minha vida, minha missão, minha herança — agora compartilhada com minha filha e com todos que têm o samba no coração.

💚💙🦋 Obrigada, minha Rocinha, por ser o lugar onde meu sonho virou realidade — e onde continuo transformando sonhos em passos de dança.

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